Dados do IBGE mostram que, em junho, oito milhões e meio de pessoas trabalhavam de forma remota por causa da Covid-19.
O comunicador Thiago Jerohan alugava uma vaga num espaço de coworking em Recife para trabalhar com projetos culturais. Com a Covid-19, ele e a equipe decidiram parar de frequentar o local e diminuir o tempo de contrato, não só por questões financeiras mas, principalmente, para seguir o isolamento social.
“A gente vem negociando com o próprio dono… Como a gente resolveu, por questões de contágio mesmo, não usar a sala, a gente decidiu fazer contratos de aluguel menores para que a gente consiga ir pagando esses valores menores e ir reavaliando a medida que a gente entender que a gente tem condições de voltar a trabalhar no escritório.”
Um estudo realizado pela Coworking Brasil, que reúne mais de 800 espaços no país, mostrou que, em julho, 90% tiveram perdas superiores a 15% do faturamento. E 40% dos coworkings entrevistados perderam 75% ou mais de toda a renda mensal, desde o início da pandemia. Em abril, 73% dos espaços estavam parcial ou totalmente fechados ao público. Com as medidas de flexibilização, a taxa caiu pra 43%. Os sócios Théo Venturelli e Giselle Jobim, donos do Coworking Town, no Rio, tiveram uma redução de demanda de 25% e precisaram se adaptar.
“Não deu muito tempo para se preparar, a gente já estava acompanhando o que estava acontecendo, mas realmente pegou todo mundo meio que de surpresa. A gente perdeu 25% dos nossos clientes, em faturamento perdemos um pouco mais e em abril, maio e junho a gente fez uma redução no contrato dos nossos clientes. Mas nós já observamos um aumento nessa procura. Em abril, por exemplo, esse número foi quase a zero, mas agora já está bem próximo dos níveis normais. O que nós fizemos foi uma mudança nas rotinas do escritório, nas rotinas de limpeza, nos protocolos de limpeza, nas rotinas de uso do espaço das áreas comuns, aumentando os intervalos entre as reuniões, reduzindo a capacidade das salas de reunião e treinamento.”
O dono do espaço KPI Virtual, em Guarulhos, Sérgio Soares, também precisou fazer adequações no espaço para receber os clientes.
“O que a gente está percebendo é uma nova tendência do mercado para poder se adaptar. Eu tenho um tapete sanitizante na entrada, coloquei totens de álcool gel para os clientes poderem higienizar as mãos… As estações de trabalho, a gente está trabalhando de forma intercalada, então algumas não estão sendo usadas, e não estamos também usando o ar condicionado. Estamos usando a ventilação natural.”
A presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, Rosylane Rocha, alerta que um dos principais riscos de contaminação nesses espaços são os sistemas de ar-condicionado.
“O ar condicionado, ele é contraindicado pois aumenta o risco de transmissão do novo coronavírus. Então, estimula-se que sejam os espaços arejados, utilizando a ventilação natural, com janelas abertas. Se não houver a possibilidade de ter janelas e tiver, realmente, que usar o ar condicionado, que essa manutenção seja reforçada buscando a qualidade do ar ambiente. Sempre verificar o distanciamento de dois metros e o uso de máscaras.”
O professor de economia do Ibmec do Rio Ricardo Macedo alerta que, desde 2016, o cenário econômico no país não é favorável. Mas ele acha que a nova forma de trabalhar gerada pela pandemia pode beneficiar os coworkings após o fim do distanciamento social.
“O Brasil passou por momentos politicamente conturbados que aumentaram a incerteza em relação ao ambiente de negócios, o que fez com que a dinâmica econômica se reduzisse. Consequentemente, todos os segmentos de mercado, inclusive o espaço de trabalho compartilhado, também sofreu essa situação. Mas, o que vemos, é que com o novo normal, as pessoas estão desenvolvendo novas formas de gestão em termos remotos. O que, para as empresas, é muito interessante porque você deixa de ter gastos elevados com aluguel e outras contas.”
O trabalho remoto foi adotado de forma emergencial por muitas empresas na pandemia. Mas, pra fundadora da plataforma Beer or Coffee, que conecta clientes a espaços de coworking, Roberta Vasconcellos, pode virar alternativa atraente quando a crise passar.
“Uma tendência muito grande de empresas tradicionais, que tem escritórios tradicionais, para reduzirem custos com seus escritórios – porque o escritório é o segundo maior custo de uma empresa, depois de folha de funcionários – e optando por escritórios flexíveis. Então a gente vê um aumento na demanda de maio para junho na nossa plataforma, justamente procurando coworkings como uma solução. Não só para diminuir sua estrutura, mas principalmente para focar no negócio e deixar quem entende de escritório e estações de coworking para poder consumir aquilo como serviço. Você paga por mês e tem tudo incluso: aluguel, água, internet, café, móveis.”
Dados do IBGE mostram que, em junho, oito milhões e meio de pessoas trabalhavam de forma remota por causa da Covid-19.
(Fonte: CBN)