16/02/2022

OIT e OMS definem mudanças cruciais para proteger quem teletrabalha

O teletrabalho pode até elevar os níveis de produtividade a custos operacionais mais baixos para muitas empresas.

Fonte: Nações Unidas

Um novo dossier de instruções técnicas sobre o teletrabalho saudável e seguro, publicado pelas duas agências da ONU, descreve os benefícios e riscos para a saúde do teletrabalho e as alterações necessárias para acomodar a mudança para diferentes formas de acordos de trabalho à distância provocada pela pandemia da covid-19 e a transformação digital do trabalho.

Um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal dos empregados é um dos benefícios apontados pelo relatório, que considera que o teletrabalho concede a oportunidade de se construírem horários de trabalho mais flexíveis e de se incorporar mais atividade física dentro da rotina. Adicionalmente, também a redução do tempo em tráfego, para as deslocações entre a casa e o trabalho, e a consequente diminuição da poluição atmosférica, pode melhorar a saúde física e mental e o bem-estar social dos trabalhadores. O teletrabalho pode até elevar os níveis de produtividade a custos operacionais mais baixos para muitas empresas.

Contudo, o dossier adverte que, sem planeamento e organização adequados e sem apoio para a saúde e segurança dos trabalhadores, o impacto do teletrabalho na saúde física e mental e no bem-estar social dos indivíduos pode ser significativo. Em certas condições, trabalhar a partir de casa pode criar um maior isolamento dos trabalhadores, aumentar o número de casos de esgotamentos, de depressões e de situações de violência doméstica, causar lesões músculo-esqueléticas, tensão ocular e levar a um aumento de peso, do tabagismo e do consumo de álcool.

No entanto, a OMS e a OIT descrevem neste relatório quais os papéis que os governos, empregadores, trabalhadores e serviços de saúde nos locais de trabalho devem desempenhar na promoção e protecção da saúde e segurança no teletrabalho.

“A pandemia levou a uma onda de teletrabalho, mudando efetivamente a natureza do trabalho praticamente de um dia para o outro para muitos”, explicou a diretora do Departamento do Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde da OMS, Maria Neira. “Nos quase dois anos desde o início da pandemia, tornou-se muito claro que o teletrabalho pode facilmente trazer benefícios para a saúde, mas que também pode ter um impacto terrível nas vidas dos trabalhadores. A forma como o pêndulo balança depende inteiramente de os governos, os empregadores e os trabalhadores juntarem as suas forças na busca de melhores condições, tal como a existência de serviços de saúde ágeis e inventivos para pôr em prática políticas e práticas que beneficiem os trabalhadores e a economia”.

As medidas que devem ser implementadas pelos empregadores incluem: assegurar que os trabalhadores recebem equipamento adequado para completar as suas tarefas; fornecer informação relevante, diretrizes e formação para reduzir o impacto psicossocial e mental do teletrabalho; formar os diretores e supervisores na gestão eficaz dos riscos, na liderança à distância e na promoção da saúde no local de trabalho; e estabelecer o “direito de desligar” em conjunto com dias de descanso suficientes. Os serviços de saúde ocupacional devem ser melhorados de forma a conseguirem fornecer apoio de saúde mental e psicossocial, tal como apoio ergonómico, aos teletrabalhadores, que utilizam tecnologias de telesaúde digital, diz o relatório.

“O teletrabalho e particularmente o trabalho híbrido estão aqui para ficar e irão provavelmente continuar a expandir-se após a pandemia, uma vez que tanto as empresas como os indivíduos experienciaram a sua viabilidade e os seus benefícios”, disse a diretora do Departamento de Governação e Tripartismo da OIT, Vera Paquete-Perdigão. À medida que nos afastamos deste ‘padrão em espera’ para nos instalarmos num novo normal, vamos tendo a oportunidade de incorporar novas políticas, práticas e normas de apoio para assegurar que milhões de teletrabalhadores tenham um trabalho saudável, feliz, produtivo e digno”.

O dossier oferece também algumas recomendações práticas para a organização do teletrabalho que vão ao encontro das necessidades tanto dos trabalhadores como das organizações. Estas incluem: discutir e desenvolver planos individuais de teletrabalho e clarificar prioridades; ser claro sobre os prazos e os resultados esperados; negociar um sistema comum para sinalizar a disponibilidade para o trabalho; e assegurar que os gestores e trabalhadores respeitam esse sistema.

As empresas com teletrabalhadores devem desenvolver programas especiais de teletrabalho, combinando medidas para a gestão do trabalho e do desempenho com tecnologias de informação e comunicação, para a disponibilização do equipamento adequado e para a melhoria dos serviços de saúde ocupacional.