Somente em 2021, foram registrados 43,4 mil acidentes de trabalho no Brasil.
A segurança e a saúde dos trabalhadores devem ser prioridades das empresas. Afinal, eles são responsáveis pela mão de obra e pelo lucro obtido através da comercialização dos produtos e serviços por eles oferecidos. Somente em 2021, foram registrados 43,4 mil acidentes de trabalho no Brasil, segundo dados do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho (SmartLab), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Ministério Público do Trabalho (MPT). Esses números mostram a importância da atenção aos treinamentos de forma integral.
Reconhecidos nas Normas Regulamentadoras (NR), que têm como objetivo promover a segurança e saúde no ambiente de trabalho, evitando acidentes, os treinamentos devem compor a agenda de todas as empresas e auxiliar na adoção das medidas prevencionistas.
Ao todo, existem 37 NR’s, 14 delas precisam de treinamentos de segurança, mas apenas três deles são obrigatórios, que são: NR 1 – disposições gerais; NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).
De acordo com Rodrigo Soravassi, engenheiro de segurança do trabalho da Trabt – Medicina e Segurança do Trabalho, empresas que não oferecem treinamentos estão sujeitas a multas e penalidades. “Por isso, antes de promover os treinamentos, a empresa deve realizar o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), para averiguar os riscos aos quais os funcionários estão expostos e quais enquadramentos serão realizados para, assim, serem definidos os treinamentos oferecidos pelo empregador”, explica.
Treinamentos obrigatórios e penalidades
As Normas Regulamentadoras estabelecem ações de proteção (obrigações, direitos e deveres) que devem ser cumpridas pelos empregadores e trabalhadores. Entre as obrigações, estão as NR’s 1, 5 e 7.
“A NR-1 determina que as ações de segurança e medicina do trabalho devam ser cumpridas por toda empresa que possui funcionário em regime CLT. A NR-5 fala sobre a obrigatoriedade de estabelecer uma CIPA em empresas que tenham grau de risco e mais de 20 funcionários CLT’s e, a número 7, estipula os exames médicos obrigatórios, além dos complementares em função do risco que o funcionário está exposto”, esclarece Rodrigo.
Funcionários motivados
Além dos benefícios financeiros, os treinamentos também são vantajosos para os colaboradores. É o que diz o líder da lubrificação de uma multinacional de embalagens, Valdeci Marques. Ele atua há 18 anos na área e já participou de diversos treinamentos na empresa.
“Foram vários treinamentos, entre eles: CIPA (NR-5); EPI (NR-6); Máquinas e Equipamentos (NR 12); Caldeiras, Vasos de Pressão e Tubulações (NR-13); Trabalho em Altura (NR-35); entre outros. Com isso, adquiri confiança e passei a executar meu trabalho com mais facilidade”, comentou.
Ele diz ainda que todos os anos faz-se necessário passar por uma reciclagem do treinamento em altura. “Ou somos proibidos de executar qualquer trabalho no alto. Antes mesmo de executar esse trabalho, é aferida nossa pressão arterial para confirmar que estamos bem”, explica. Além de oferecer os treinamentos, a empresa também deve fiscalizar a utilização dos EPI’s, como: luvas anticorte, óculos de proteção, touca e boné com proteção para evitar a contaminação com o produto ou acidentes.
As vantagens são inúmeras tanto para empresa quanto para os colaboradores. “Os funcionários se sentem motivados e mais comprometidos ao executarem suas atividades com segurança, aumentando o rendimento, produtividade e diminuindo a necessidade de contratações. Outro fator importante, é que os treinamentos eliminam o risco de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, promovendo bem-estar e qualidade de vida”, conclui o engenheiro Rodrigo.
Atenção integral na SST
Para Luiz Brito Porfírio, técnico de segurança do trabalho, diretor do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho de São Paulo, e idealizador do canal Treinar para Salvar, no YouTube, a atenção para a melhoria contínua do trabalhador e ambientes de trabalho deve ser integral e, portanto, os treinamentos são ferramentas essenciais. “Qualquer transformação só vem através da do conhecimento, da educação e o treinamento faz parte de todo esse contexto. O que notamos em nosso dia a dia é que a segurança do trabalho é muito precária na questão do treinamento. Isso acontece porque, hoje, as pessoas buscam muito atender a parte legal, com o cumprimento das normas. Entendemos que isso é necessário, mas a transformação do ser humano, como fonte fundamental da prevenção, acontece de forma mais harmônica a partir do momento que você oferece um treinamento de qualidade e consegue inserir o conceito prevencionista na mentalidade dele”, destaca.
Porfírio avalia que a parte de prevenção no trabalho representa ganhos tanto para a empresa quanto para o País e para o próprio trabalhador. “Os conceitos de prevenção não estão ligados somente ao ambiente de trabalho, mas ligados a própria residência do trabalhador. Muitos acidentes ocorrem dentro das suas moradias porque os profissionais relaxam. Na mentalidade deles, os equipamentos segurança do trabalho (EPIs ou EPCs) são para uso na empresas ou os cuidados preventivos são necessários apenas dentro da empresa e, às vezes, o próprio trabalhador começa a criar uma mentalidade de que ele só usa por obrigação e não como prevenção”, aponta. Por isso, ele menciona que os profissionais de SST podem contribuir para o bem maior da sociedade é através da educação e da transformação para uma consciência prevencionista.
Porfírio conta que o projeto “Treinar para Salvar” nasceu dentro do atendimento pré-hospitalar, mas ele sempre teve a visão do técnico de segurança do trabalho. “Percebi, dentro do próprio ambiente que atuava que os trabalhadores não tinham, realmente, essa mentalidade prevencionista e usavam o equipamento de proteção somente na ocorrência, ou tinham alguns cuidados somente no atendimento do paciente. Esse comportamento levava, muitas vezes, as pessoas ao afastamento ou até mesmo a sofrer uma lesão de alguma forma no momento da sua atividade laboral”, comenta.
Mudança da mentalidade e comportamento
Com essa vivência, o TST começou a inserir algumas orientações preventivas no contexto da segurança e saúde do trabalho com o objetivo de “treinar para salvar” e tendo como meta principal mudar a mentalidade dos trabalhadores. “Não visamos criar um conteúdo por criar, pois é preciso levar as informações para além desse foco, buscando priorizar a qualidade para que haja, de fato, a mudança de comportamento. Com a valorização dos treinamentos adequados, específicos para cada tipo de empresa e trabalho, e que fazem, sobretudo sentido e a diferença na melhoria da qualidade de vida do trabalhador, vamos, assim, alcançar maiores e melhores resultados dos treinamentos e todos saem ganhando”, pontua o especialista.
O ponto chave no trabalho do “Treinar para Salvar”, segundo Porfírio, é que o trabalho de conscientização não está ligado somente à pessoa que vai receber o treinamento, mas abrange como um todo a empresa e seus colaboradores. “É um exercício global, porque a partir do momento que você compartilha um conhecimento com o trabalhador e ele leva isso para casa, certamente ele terá uma visão melhor em termos de prevenção”, destaca.
Para a empresa que pensa em segurança do trabalho como um tópico principal das suas ações, Porfírio assegura que ela sobrevive a qualquer crise. “Quando um trabalhador é afastado, a empresa tem queda de produção, tem queda na qualidade da prestação de serviço, entre outros problemas. Para o atendimento da saúde também existem consequências. O atendimento pré-hospitalar móvel e remoção, por exemplo, pode vir a ter uma sobrecarga e virar uma bola de neve no sistema de saúde geral. Ao aplicar o treinamento, conforme o conceito do ‘Treinar para Salvar’, o objetivo principal é fazer com que, dentro da organização ou da identidade empresarial, que esse treinamento seja pensado de forma coletiva e traga resultados que vão influenciar de forma integral a vida de todos os envolvidos”, finaliza o TST.
Fonte: Revista Cipa