26/04/2023

Gamificação na segurança do trabalho: de tendência a realidade

Antes voltados para o entretenimento, jogos como Batalha Naval ou mesmo o Lego, hoje são uma realidade no ambiente laboral e tem um nome: gamificação.

Antes voltados para o entretenimento, jogos como Batalha Naval ou mesmo o Lego, hoje são uma realidade no ambiente laboral e tem um nome: gamificação.

Vindo do inglês gamification, a utilização da técnica tem em seu escopo aumentar a motivação, o engajamento e o trabalho em equipe. Pontos, recompensas, desafios e competições são os elementos mais comuns e estão presentes nas gigantes da tecnologia como Google, Microsoft e HP.

O designer e teórico de jogos James Portnow em seus estudos aponta que, por meio do jogar aprendemos sem perceber a intenção atrelada à atividade, ou seja, um treinamento para operar uma máquina pode ser mais produto se for por meio de um jogo e não apenas uma capacitação com simulações ou leitura de manuais (lembrando que essas ações também são importantes).

 

Sistema de gamificação

 

Uma empresa de software de gestão pública do Paraná, a Elotech implantou recentemente um sistema de gamificação com foco em e reforçar os valores e a cultura interna de cuidado com os colaboradores e clientes.

Por meio de pontuações, considerando os pilares do Desenvolvimento, Atendimento e Gestão de Pessoas,os colaboradores, chamados de Elotechers, divididos em times (squads) podem contribuir respondendo aos desafios e, ao mesmo tempo, alimentando métricas para alinhar com os valores organizacionais, que englobam colaboração, autonomia, performance e integridade. Indicadores, prêmios e o próprio jogo são coletivos na empresa, que estimou o jogo como anual, separado em ciclos bimestrais.

 

Na prática

 

Não são só empresas de tecnologia em que a gamificação está presente. Na administração pública, a implantação da técnica contribui inclusive nas tomadas de decisão e participação política dentro das organizações.“Na gamificação é utilizado o conceito e técnicas de jogos em contextos não relacionados aos jogos”, disse Rodrigo Narcizo, servidor público federal da Agência Nacional de Aviação (Anac) e criador de jogos para governos, durante 10ª edição do LabTalk, promovido pela Fundacentro, que trouxe a pauta “Gamificação em Segurança e Saúde no Trabalho: conquistas e conflitos”, disponível no Canal da Fundação no YouTube.

O sistema pode auxiliar os colaboradores a identificar como está o seu próprio bem-estar, por meio de jogos em módulos que envolvam temas sobre sono, atividade física, nutrição, psicológico, foco e concentração. Um exemplo foi apresentado pelo Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo, que criou o sistema para um programa de qualidade de vida em uma indústria naval, com recursos de gamificação. Os funcionários acumulavam pontos e ganhavam premiações quando acessavam a página, postavam, comentavam e faziam os cursos.

 

Riscos à privacidade

 

Adriana Jardim Arias Pereira, coordenadora de saúde corporativa e médica do Corpo Clínico do Einstein, comentou, no evento da Fundacentro, que a experiência não foi voltada apenas aos colaboradores, mas estendida às famílias. “Foram acompanhados 479 trabalhadores, a maioria de obesos, com diabetes, hipertensos. Criamos o Plano de Ação envolvendo Campanha de sensibilização, consulta médica, acompanhamento nutricional, intervenção no refeitório e introdução à atividade física. Trouxemos também o jogo ‘Batalha Naval’ com o Programa Global Challenger, com duração de 100 dias, os funcionários se engajavam nessa atividade em grupos”, frisou a médica.

Contudo, vale ressaltar que a gamificação não se encaixa em todos os casos. Durante o evento da Fundacentro, Marcelo de Vasconcellos, programador visual da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e diretor da Acta Ludica: International Journal of Game Studies frisou os riscos da implantação sem um estudo prévio da gamificação dentro das empresas. “Um dos mais perigosos é usá-la para manipular os usuários. Isso acontece muito no setor privado, onde as empresas financeiras usam para coletar dados, e isso pode colocar em risco a privacidade”, alertou.

Da tendência à realidade, o verbo gamificar conversa bem com outro verbo: planejar.

Fonte: Revista Cipa