Muitas empresas estão investindo em ações, como adesão aos pets friendly e busca pela felicidade dos funcionários.
E os benefícios podem ser um primeiro passo. Números do Engaja S/A, primeiro índice de engajamento de funcionários do Brasil, criado pela empresa de benefícios Flash em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a consultoria Talenses Group, os funcionários ensejam por auxílios ligados à saúde e bem-estar 57,62%).
“Os dados mostram a importância de oferecer benefícios variados e que se adaptam à vida dos funcionários. Pode ser um dos fatores determinantes para ter um funcionário muito engajado ou ativamente desengajado quando se trata de remuneração e benefícios”, afirma Danilo Lima, diretor de Branding da Flash, à Exame.
Benefícios dos pets friendly
Na outra ponta, é preciso ter cautela em não apenas falar dessas ações pontualmente, porém não efetuarem mudanças que provoquem problemas de saúde mental no ambiente de trabalho, o chamado carewashing: “Essa palavra, relativamente nova, é quando uma empresa afirma se preocupar com questões importantes, mas as práticas de negócios não refletem genuinamente esses valores. Para combater esse problema, requer um compromisso com a transparência, diálogo autêntico com os stakeholders e a disposição de fazer mudanças sistêmicas que alinhem os valores proclamados com as práticas reais”, explica Joaquim Santini, pesquisador internacional, ao mesmo site.
Outra pesquisa, da empresa de benefícios Niky, mostrou que as empresas estão buscando auxílios aos animais de estimação dos funcionários. “Houve uma procura pelo auxílio pet, projeto de assistência para o animal considerado ‘parte da família’ do trabalhador. O pedido por descontos em produtos e serviços também se destaca”, frisa Matheus Rangel, CGO da Niky, à Veja.
Um exemplo é da BeFly, empresa de turismo, que oferece um plano de saúde cachorros e gatos sem carência, permitindo que funcionários que aderirem cuidem de seus pets por um valor acessível descontado em folha. “O animal de estimação conquistou seu espaço e a nossa atenção. Considerando que o pet se tornou membro da família e que sua saúde impacta na rotina da casa, ter um olhar cuidadoso e de assistência para a saúde do pet passou a ser um novo compromisso do funcionário e da empresa”, comenta, à Exame, Renata Esteves, diretora de gente e gestão da companhia.
Mapeamento
A revisão recente da Norma Regulamentadora N.º 1 (NR-1), que trata do gerenciamento de riscos organizacionais, levou a inclusão de identificar e gerir também esse tema. “Esses relatórios devem evidenciar medidas concretas para prevenir problemas de saúde mental, gerenciar a sobrecarga de trabalho e garantir ambientes de trabalho saudáveis e livres de assédio”, salienta Tatiana Pimenta, CEO da Vittude, especialista em tais programas às organizações, em entrevista à Carta Capital.
Outra manifestação do governo federal é a criação de um Certificado de Empresa Promotora de Saúde Mental, lei aprovada (Lei 14.831/24) que reconhece e incentiva empresas com políticas eficazes de promoção da saúde mental no trabalho. Criada pelas deputadas Jack Rocha (PT/ES) e Maria Arraes (Solidariedade/PE), o selo é renovado a cada dois anos e precisa seguir critérios de prevenção ao adoecimento mental.
“As boas condições de ambiente de trabalho não substituem a necessidade de se ter boas condições estruturais de trabalho. Isto implica um ambiente de trabalho climatizado não substitui uma vinculação precária, o fornecimento de alimentos em local de trabalho não substitui uma boa remuneração com a qual o trabalhador pode alimentar bem a si e a sua família”, destaca Marcelo Kimati Dias,assessor da presidência da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho e médico psiquiatra, em entrevista ao site da Fundacentro.
E prossegue: “Uma empresa que oferece um aplicativo de cuidados psicológicos aos trabalhadores pode ter ainda assim um ambiente de trabalho autoritário e abusivo e com muito sofrimento mental”, diz.
Felicidade no trabalho
De acordo com o Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) anualmente, perde-se o equivalente a 12 bilhões de dias de trabalho por conta de questões de depressão e ansiedade, um custo à economia global na casa de U$ 1 trilhão.
Para o especialista em felicidade Henrique Bueno, que em setembro realizou uma palestra no Serviço Social da Indústria de Brasília (SESI), muito embora alguns ambientes possam afetar a felicidade, eles representam uma parcela pequena do que influencia o bem-estar das pessoas.
“Podemos morar em um lugar paradisíaco e ainda assim não sermos felizes. Isso porque o ser humano se acostuma muito rapidamente com pessoas e coisas — fenômeno denominado adaptação hedônica. Não adianta ter o ambiente perfeito se não aprendermos a modular nossa perspectiva, a ver o mundo com outros olhos e a alinhar nossas ações em direção a uma versão cada vez melhor de nós mesmos. O ambiente importa, mas o nosso protagonismo é a grande chave”, conclui.
Fonte: Revista CIPA
Foto: Keli Vasconcelos