28/05/2025

Artigo – Doença Ocupacional: Seleção adequada

É importante lembrar que “conhecer e não aplicar é o mesmo que não conhecer”

Medidas de prevenção e controle da poeira de sílica são essenciais

A silicose – doença ocupacional que causa fibrose pulmonar progressiva, incurável, incapacitante e eventualmente fatal – é prevenível, visto que o risco de inalação do seu agente etiológico, ou seja, finas partículas de SLC (Sílica Livre Cristalizada), pode ser evitado por meio de tecnologias de prevenção. Se os princípios clássicos de prevenção e controle de exposição a poeiras forem aplicados eficientemente neste, ou em qualquer outro ramo de atividade em que há exposição à poeira respirável de SLC, os níveis de exposição serão muito menores, ou não existentes, e assim, muitas vidas serão salvas. Além da silicose, a inalação de SLC causa outras doenças respiratórias como bronquite crônica, enfisema e câncer de pulmão. Há uma necessidade global de se aplicar efetivamente o conhecimento existente em estratégias e medidas preventivas adequadas e eficientes nos locais de trabalho, ou seja, prevenção primária. É importante lembrar que “conhecer e não aplicar é o mesmo que não conhecer”.

Existem iniciativas internacionais visando a eliminação da silicose, por exemplo, o Outline for a National Programme for the Elimination of Silicosis (OIT/OMS, 2006) e A Iniciativa de Eliminação da Silicose nas Américas (OPAS/OMS, 2009), sendo que todas enfatizam a necessidade da prevenção primária da exposição a poeiras contento SLC e aconselham quanto a medidas e ações a serem tomadas pelos países.

Entretanto, na aplicação prática das recomendações em nível de país, o aspecto da prevenção primária fica frequentemente relegado a segundo plano, por diferentes motivos, que incluem falta de conscientização e vontade política dos tomadores de decisão, falhas na formação de profissionais competentes em prevenção primária e falta de pesquisa sobre aplicação dos princípios de prevenção a situações reais, que são diversas e muitas vezes complexas. Cabe aqui uma citação em um artigo de Anthony Frankel, chefe de Medicina Respiratória no Bankstown Hospital em Sydney, na Austrália, e de outros autores de que “regulamentos são tão bons quanto sua implementação”, ou seja, sem implementação, regulamentos e diretrizes não têm nenhum valor.

NA EUROPA
Em nível de Europa deve ser mencionada a iniciativa NEPSI, sigla para a European Network for Silica (Rede Europeia de Sílica), formada pelas associações de empregadores e de empregados setoriais europeus que assinaram o “Acordo sobre a Proteção da Saúde dos Trabalhadores através da Utilização e Manuseio Corretos de Sílica Cristalina e Produtos que a Contenham”, de 25 de abril de 2006. Veja mais no link https://nepsi.eu/pt/home/). Seu Manual de Boas Práticas, NEPSI Good Practice Guide, está disponível no link https://guide.nepsi.eu/.

Um estudo da Finlândia de Tapani Tuomi e outros autores, com o objetivo de observar tendências na exposição à SLC, antes e depois da implementação do Acordo NEPSI, corrobora a utilidade dessa iniciativa. O estudo apresenta dados de avaliações ambientais em diversos locais de trabalho, nos anos de 1994 a 2013, incluindo resultados de 2.556 amostras de ar coletadas tanto na zona de respiração dos trabalhadores como em pontos estacionários, visando estimar a exposição média dos trabalhadores a SLC, durante turnos de 8 horas. A implementação de boas práticas, como aconselhada pela NEPSI, coincidiu com um declínio marcante na exposição a poeiras respiráveis contendo SLC nos locais de trabalho estudados.

Dados da autora:

Berenice I. F. Goelzer – Engenheira e Higienista Ocupacional
berenice@goelzer.net

Fonte: Revista Proteção